Sunday, November 9, 2008

Ao vivo e a cores

    A foto registra minha primeira participação profissional num grupo musical (ou conjunto, como dizia-se em 1974, ano da minha estréia nos palcos de clubes em Porto Alegre). 
    Dá para ver que tínhamos duas cantoras, mas o Boogaloo chegou a ter 3 mulheres cantando nas suas apresentações, no que foi pioneiro no Rio Grande do Sul. Os motivos desse pioneirismo: os grupos tinham formação exclusivamente masculina, ou seja, os garotos formavam seu clube do bolinha e luluzinha, só como groupie! 
     Não haviam cantoras disponíveis: se uma garota gostasse de cantar, devia materializar seu desejo oculto debaixo do chuveiro, porque atuar num grupo rodeada de homens, com "fama de garanhões e certamente consumidores de drogas" (o velho clichê música x sexo x drogas), chegar tarde em casa e viajar sozinha... nosssa! quantas coisas terríveis e perigosas para os pais aceitarem! Então, poucas decidiam enfrentar toda essa pressão familiar, fora o fato de que "cantora da noite" = vagabunda. O público masculino ia nos assistir pensando que éramos presas fáceis, isto é, "tá lá em cima do palco, se fresqueando, é porque tá querendo transar..."  😃
    Mas os colegas músicos demonstravam respeito e estimulavam nosso crescimento profissional dentro da banda, porque a presença feminina chamava e conquistava o público, aumentando o sucesso do grupo nas noites de sexta, sábado e domingo. Na década de 70, a black music era a preferida para escutar e dançar, então o repertório era basicamente com canções negras americanas. Também nos inspiramos no grupo de Sérgio Mendes, que tinha duas cantoras (uma loira e uma morena) e um repertório com muito balanço (hits americanos com sabor brasileiro). Nara d'Ávila era a loira (escondidinha, no fundo da foto) e eu, a morena... Na minha estréia, fazia muitos vocais, mas cantei apenas uma música-solo, tremendo dos pés à cabeça no início, mas me soltando à medida que vi que era possível: eu cantava ao vivo e a cores! 

Esse foi meu primeiro solo: 

(Last Night) I Didn't Get To Sleep At All (The 5th Dimension) 

Last night I didn't get to sleep at all, no, no 
I lay awake and watched until the mornin' light 
Washed away the darkness of the lonely night 
Last night I got to thinkin' maybe I, 
I, I Should call you up and just forget my foolish pride 
I heard your number ringing, I went cold inside 
And last night I didn't get to sleep at all 
I know it's not my fault, 
I did my best God knows this heart of mine could use a rest 
But more and more I find the dreams I left behind 
Are somehow too real to replace 
Oh, last night I didn't get to sleep at all, no, no
The sleepin' pill I took was just a waste of time 
I couldn't close my eyes 'cause you were on my mind 
And last night I didn't get to sleep, didn't get to sleep 
No, I didn't get to sleep at all [break]  
But more and more I find the dreams I left behind 
Are somehow too real to replace 
Oh, last night I didn't get to sleep at all no, no 
The sleepin' pill I took was just a waste of time 
I couldn't close my eyes 'cause you were on my mind 
And last night I didn't get to sleep, didn't get to sleep 
No, I didn't get to sleep at all 
No, no, no No, no, no 
Last night I didn't get to sleep at all, no, no 
Oh, last night I didn't get to sleep at all (oh, oh)

                                                Banda The 5th Dimension

A formação do BOOGALOO quando entrei: 

    Alemão (dono, manager e quando sobrava tempo, subia no palco e dava uns tapas numa tumbadora), Dirceu (dono, relações públicas e contrabaixista), Enos e Joãozinho (dois irmãos que tocavam instrumentos de sopro - o pimeiro, piston e o segundo, saxofone), Barel (bateria) e Milo (guitarra e voz). O teclado só entrou para a banda mais tarde, na formação que aparece na foto, com Carlos Garofalli, um "hermano uruguaio" com pinta de galã e excelente pianista/tecladista, também arranjador. Tínhamos na estréia 3 cantoras: Nara d'Ávila (minha amiga de infância), Márcia (veterana, pois já tinha mais experiência do que nós duas nos palcos) e, esta que vos fala, Kazu (depois, ficamos só Nara e eu, a Márcia foi trabalhar em Caxias, em outra banda que também era popular). Posteriormente, Milo saiu, entrou o Virnei (na foto, com a guitarra) e quando este também saiu, foi admitido o hoje famosíssimo José Carlos Lima, o Zeca, criador da Família Lima, como guitarrista e crooner (prá quem não sabe: crooner = vocalista e/ou cantor). 

     Zeca estava recém-casado com a Lorena, então desfrutaram a lua-de-mel numa temporada que fizemos em Morro dos Conventos, praia de Santa Catarina. Era um cara supercuidadoso com suas cordas vocais, não bebia e saía no final das festas, já madrugada, com uma manta enrolada na garganta. Também preocupava-se extremamente com o visual, vestia sempre um alinhadíssio terno, diferenciado da roupa dos outros músicos. O casal tinha mudado há pouco para Porto Alegre, vindos de Novo Hamburgo e Dois Irmãos e começava modestamente sua vida na Capital (Lorena trabalhava como enfermeira). Logo estavam com uma enorme prole; lembro que fui visitá-los em uma casa de cômodos que ficava perto da minha residência (na Bento Martins esquina com a Demétrio Ribeiro, hoje essa casa não existe mais, pegou fogo e fizeram um prédio de apartamentos) e pude ver como esforçavam-se para manter a família. Um pouco depois, Zeca iniciou a escolinha para pequenos violinistas, ensinou música aos filhos e... o resultado do investimento está na constatação do sucesso da família na música popular brasileira. 

     Anos depois, trabalhei com o irmão dele, Daniel Lima, o Peixe (baterista), mas isso é outra história...

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