Friday, January 9, 2009

Maysa, a gata transgressora



Impossível não comentar a minissérie sobre a vida de Maysa, transmitida desde segunda-feira pela Globo; muitos criticam que os fatos estão sendo "romanceados", mas nada mais coerente para o roteiro de uma série ou minissérie, já que fatos reais são encontrados em documentários - e, às vezes, nem neles encontramos a "pura verdade"...

Maysa é uma das personagens da minha infância: me atraía ela ser uma mulher diferente daquelas que pululavam no meu universo - senhoras recatadas, donas-de-casa, que não fumavam nem bebiam e, obviamente, não tinham vida profissional (apesar de que deviam sonhar com uma carreira glamourosa como a das artistas do rádio e da tv...). E, além de toda essa transgressão, ela cantava... e muito bem! E eu, que amava a música e queria ser cantora, via nela uma estrela inatingível, um ser irreal que morava num conto-de-fadas.

Admirava suas fotos nas páginas da revista O Cruzeiro, onde também haviam imagens de mulheres de biquíni em Copacabana... No Rio de Janeiro e São Paulo, cidades cosmopolitas, ser boêmia e cantora não agredia tanto aos costumes como na pacata Porto Alegre (RS), cidade sulista de tradições machistas e conservadoras; quando observava aquelas fotos, entrava num outro mundo, brasileiro mas tão distante quanto a Lua.

Mais tarde, ficando a par do seu sofrido dilema entre escolher a carreira ou a família (como acontece com tantos artistas) e já sendo cantora, passei também por essa escolha que dilacera nossos sonhos em pedaços dicotômicos: viajar para o eixo-Rio-São Paulo onde tudo acontecia (ainda não é assim?) ou me conformar com uma caminho sem estrelato que me permitiria ficar ao lado dos meus filhos?
Pensei que já tinha essas questões resolvidas e adormecidas dentro de mim, mas ao assitir à história de Maysa, percebi que debaixo das cinzas ainda ardia uma pequena brasa: com teria sido a minha vida se tivesse aceito as propostas, partido para tentar o sucesso e deixado as crianças para serem criadas pelos meus pais?
Não tenho as respostas, só posso conjecturar; mas na telinha, Maysa, já famosa, sofre ao ver seu ex-marido e o filho, abandonados por ela, recomeçando uma vida familiar com outra mulher... Nesse momento, ela gostaria de ficar com todas as cartas do jogo, algo impossível, pois jogando temos que escolher e pensar nas melhores combinações, o que nem sempre nos leva a triunfar ou encontrar a tal da felicidade.

Talvez por isso, ela fosse tão infeliz, por não poder seguir todos os caminhos ao mesmo tempo, por ter que optar e perder... ela não gostava nada de perder, de não ser a primeira e a melhor, a insubstituível...

Talvez por esse motivo agredisse tanto a si com os vícios do cigarro e do álcool, que a faziam fugir de seus problemas mas acabavam levando-a para outros, criados pelos excessos e o desgaste. Teria ela protagonizado tantos escândalos se não estivesse sempre bêbada? Penso que não. Billie Holiday, Janis Joplin, Amy Winehouse (citando apenas algumas), mulheres talentosas e criativas que se machucaram propositalmente, como se estivessem em busca de um castigo constante, de uma punição que talvez lhes desse sossego (ou somente a morte poderia consegui-lo?).

Trabalhar em bares noturnos, cantar, beber, fumar, dormir tarde e acordar com o sol a pino, desgastar o corpo e o espírito, achar que tem muitos amigos mas não poder confiar em ninguém: é como andar pelos subterrâneos do inferno; não que isso tenha uma conotação com o Mal, mas relaciona-se com aprender por caminhos tortuosos (Perséfone é raptada por Hades para viver nos subterrâneos, no mundo dos mortos e vai, aos poucos, perdendo sua fertilidade e brilho).



Maysa me faz pensar também no grande ego dos artistas. Possivelmente, os que mais se destacam são os que conseguem carregar o seu o mais inflado possível, pois ante tantos obstáculos, como a competitividade e o transcorrer implacável do tempo, é esse ego desproporcional que os sustenta.
Ego excêntrico - ele acaba te levando para a luz dos holofotes - seja por motivos louváveis ou por lamentáveis acontecimentos.

Sunday, January 4, 2009

Passagem do tempo


“A voz muda com o passar do tempo e eu peço sempre a Deus saúde, o resto é resto. Eu sei que eu não tenho mais a mesma voz de 20 anos atrás, mas hoje eu sei usá-la melhor do que há 20 anos atrás".

Simone Bittencourt de Oliveira - 2005


Simone nasceu em 1949, portanto acabou de completar, no último Natal, 59 primaveras.